domingo, 2 de maio de 2010

Um homem fatal.

Um homem não vive sem uma mulher. Isso é totalmente impossível e inquestionável pra eles. Mesmo um homossexual precisa da presença feminina de uma amiga pra ter seu ciclo de amizades completo. Os homens gostam do poder que exercemos sobre eles. Mesmo os machistas, sem perceber, gostam de se sentir subjugados por uma mulher poderosa. Uma mulher fatal. Conosco funciona da mesma maneira. Somos capazes de amar homens ternos, gentis e amorosos. Mas a paixão, ah, só ocorre diante de um homem fatal. E Fernando era um homem fatal.

Ele entrou, simplesmente entrou no bar. Era noite. O mundo parou. O mundo feminino, obviamente. Com toda a discrição e manipulação feminina, olhamos todas juntas para aquele homem. Olhamos e o desejamos. Todas nós sabíamos que a partir daquele momento nos tornamos inimigas mortais e que faríamos tudo por ele. E ele sabia disso. Ele sabia da capacidade que tinha de subjugar o poder feminino. Sabia que era uma exceção entre todos os homens.
Quem escolhe o homem é a mulher. Toda mulher nasce sabendo como mandar o sinal para seu macho, mandar o sinal sem que ele saiba que você o escolheu, assim ele pensa que a escolheu, mas a escolha é sempre feminina. Mas aquele homem sabia que no seu caso a decisão era completamente sua. Sabia que toda e qualquer mulher o havia escolhido. Sabia muito bem que todas estávamos à sua mercê.
E ele carregava isso no olhar. E que belos olhos aquele homem tinha. O cabelo desarrumado, selvagem, intimidador. A camisa aberta até um pedaço, a calça jeans casual. O sapato preto impecável. Tudo sugerindo boas marcas, classe e casualidade.
O cabelo preto. A sobrancelha preta, um pouco reta, delineada, sensual. Os olhos sérios, negros, profundos, misteriosos, perigosos. O nariz reto, talhado, perfeito. Os lábios grossos, um sorriso de canto incrustado, pecaminosos. Queixo quadrado, proporcional, másculo. Ombros largos, fortes, convidativos. Barriga delgada, lisa. Braços firmes. Quadril proporcional aos ombros. Volume delicioso, excitante e discreto. Pernas não muito grossas, não muito finas, delineadas. Pé quarenta e dois, na medida certa.
Fatal. Simplesmente fatal. Um clima denso de expectativa foi quase tangível no universo feminino. Todas esperavam que ele escolhesse. Umas, duas... Três. Acho que mulher nenhuma se incomodaria em dividi-lo. Mas não era o tipo de homem que sairia com duas, como uma máquina de hormônios enlouquecidos. Ele era superior. Desumano, até.
Eu estava sentada no balcão com uma amiga. Bebíamos e riamos muito. Ela era muito linda. Uma loira de corpo definido pela academia, um lindo par de seios de silicone. Usava sempre roupas justas e provocantes. Vestidos curtos, sapatos altos. Seu cabelo era comprido e cuidadosamente alisado por horas de chapinha em frente ao espelho. Alessandra era mesmo uma mulher e tanto. Até eu poderia sentir-me atraída por ela. O tipo de mulher que deixa inveja por onde passa. Uma gostosa, diriam os homens.
Eu me sentia inferior perto de Alessandra. Até seu nome era impactante. Até que um dia um amigo me dizer uma coisa que fez eu me sentir um pouco melhor.
“Alessandra é mesmo gostosa pra caralho.Mas sabe o que te faz melhor que ela? Alessandra é do tipo vadia que qualquer um tem. Todo homem que sai com a Alessandra sai apenas pelo seu corpo. Ela não é misteriosa, tem uma placa escrito ‘me coma’ pregada na cara. Tu, Lúcia, tu é capaz de deixar qualquer homem enlouquecido. Até eu que sou teu amigo pagava um pau pra te ter. Tu é uma mulher e tanto. Tu não é brutalmente alta como Alessandra. Teu tamanho é sexy. Teu cabelo curto e vermelho mostra que tu não é qualquer vadiazinha, que tu é mulher e sabe das coisas. Tu é o tipo de mulher que intimida os homens. Acontece que homem que sai pra noite sai pra transar e o tipo de mulher pra transar é a Alessandra.”
Aquilo até me fez criar esperanças com aquele homem. Mas um homem fatal procura uma mulher fatal. E isso eu não era. Ele não procurava uma mulher interessante. Mas sim um belo par de pernas.
O homem entrou e encostou-se ao balcão. Pediu vinho tinto. Aparentemente ele parecia arrogante às mulheres da noite. Mas sabíamos que era apenas impressão, que ele cuidava cada silhueta feminina, prestes a atacar. Ele ficou lá... por quanto tempo? Ele estava alguns passos à minha esquerda. A conversa de Alessandra passava longe dos meus ouvidos. Juro que eu podia ouvi-lo engolir a bebida. Escutar o líquido descer pela sua garganta. Como Alessandra podia agir tão naturalmente? Vadia.
Ele ficou ali. Passaram uma, duas, três, quatro músicas. E nada. Bem, desisti de conjecturar o sabor de vinho que sua boca deveria estar. Resolvi dançar. Se existe algo que gosto de fazer é dançar. E faço muito bem. Até admiro a forma como meu corpo se movimenta facilmente na pista. Levantei-me. Alessandra decidiu ficar. Deslizei pela pista, deixando a música penetrar meu corpo e comandar meus sentidos. Eu em sentia mais confiante dançando. Dancei e dancei. Como numa havia dançado.
Uma hora, me permiti olhar de relance para o homem fatal. E credo, Alessandra estava a postos ao seu lado. Sentada em um banquinho; pernas cruzadas, direcionadas a ele. Sorriso malicioso no rosto. Ela jogava o cabelo pra trás. Tagarelava alguma coisa. O vestido branco, curto, levemente mais puxado pra cima. Seu nariz empinado era arrogante. Só faltava ela fazer a dancinha da vitória, pregar uma bandeira nele e dizer que era território seu. Vadia.
Nem quis olhar para ele. Só para não ver sua cara de idiota diante de Alessandra. Entrei mais na pista, me misturei nas pessoas e me entreguei. Fechei os olhos e apenas dancei. Fazia tempo que eu não dançava tanto sozinha. Eu sentia cada célula do meu corpo vibrar no ritmo da música. Dancei por uma, duas, três músicas sem parar. Decidi que precisava beber algo. Voltei para o balcão. Não caí na gargalhada porque questão de segundos.
O que vi foi: Alessandra sentada novamente no nosso lugar, braços cruzados, nariz empinado e um biquinho de descontentamento. E ele, ele sozinho, bebendo seu vinho. Olhos fixos em mim. Foi aí que a gargalhada estancou e eu tremi.
Parei no balcão. Olhei de canto para ele. E credo, ele ainda estava fixo em mim. E pior, estava sorrindo. Sorri, condescendendo com a cabeça.
-Olá.
Nossa! Sua voz era aveludada, grossa. Fatal.
-Oi. –eu disse; minha voz meio entrecortada, meio sabe-se lá o quê.
Seu sorriso se alargou.
-Não quer sentar-se aqui?
Seus olhos desceram para a cadeira que Alessandra estivera sentada há pouco.
-Claro. – eu disse, sorrindo. Homens fatais gostam de mulheres decididas e isso eu podia dizer que era.
-Quer beber algo?
-Aceito um vinho, para acompanhar. – eu disse, fitando seu copo.
-Ótima escolha. Hoje a noite pede um bom vinho tinto.
-Toda boa noite pede um bom vinho tinto.
-Então quer dizer que a noite hoje está sendo boa?
Não pude responder, ele se virou e pediu o vinho ao garçom. Quando virou-se de volta, palavras já se formavam em sua boca.
-Qual seu nome?
-Lúcia. E o seu?
-Fernando.
Nome impactante. Gostava de nomes assim, de personalidade.
-Prazer.
-O prazer, com certeza, é meu.




Seu carro era incrivelmente reluzente e grande. Não lembro o modelo, mas era diferente de tudo que costumamos ver rodando pela cidade. Ele me levou até sua casa. Um casarão de dois andares. Não sabia que dinheiro também era atribuído a homens fatais. Mas era fácil imaginar como deveriam ser simples as coisas para um homem como aquele. Ainda mais se sua chefa for uma mulher.
Sentamos na sala. Ele ligou o sistema de som. Uma música soou baixinha e parecia que a banda tocava especialmente para nós, atrás de algum dos móveis da casa.
Que gosto bom tinha sua boca. De vinho, de pimenta, ou qualquer coisa que remetesse ao pecado. E que pegada. Ta aí algo que é importante em um homem. Uma boa pegada transforma o cara mais feio do mundo num galã cheio de tesão. E aquele Fernando sabia o que fazer. Ele era suave, lascivo, devagar, tornando cada sensação única. E era também brutal, selvagem, agressivo. Tudo numa coisa só. Se tem uma coisa que mulher gosta é de agressão. E ele puxou meu cabelo com força, puxou meu corpo contra o dele, mordeu meus lábios. Mas ele também deslizou de leve sua mão pela minha barriga e beijou meu pescoço.
Logo, ele estava sobre mim, despido. Que corpo era aquele! Dava prazer só em contemplar aqueles braços delineados, aquela pele morena e macia. Suas mãos me pegaram na nuca e ele me beijou com força. Sua boca deslizou pelo meu pescoço e foi descendo, passando por cada milímetro do meu corpo. Mordendo, feroz.
E assim a noite prosseguiu intensa e perfeita.
De manhã, quando acordei, ele estava sentado, ao meu lado. Que corpo era aquele! Credo! Eu poderia passar a vida inteira olhando e não cansaria. Sempre me surpreenderia.
-Bom dia. – ele disse, com aquela voz de veludo.
-Bom dia. – respondi. Estava com medo de como a minha aparência deveria estar.
Mas era de manhã e eu ainda estava na casa dele. Eu deveria ir embora, antes que aquilo ficasse sério demais. E eu não queria nada sério.
-Bem, preciso ir.
-Tem certeza?
-Sim. – eu disse, sorrindo.
-As tuas roupas estão ali. – ele apontou; o sorriso pecaminoso sempre no incrustado no rosto perfeito.
Vesti-me rapidamente. Olhei-me no espelho e não estava tão mal assim. Arrumei e cabelo e refiz a maquiagem. Depois de uma noite daquelas, pra casa é que eu não iria. Correria para casa de Alessandra. E ela saberia de cada detalhe, da forma mais sórdida possível.
-Então, vou indo.
-Até mais, Lúcia.
-Até outro dia, Fernando.
-Você será bem vinda aqui à noite que você quiser.
-Voltarei.
E fui embora.


Voltei lá inúmeras noites e foi cada uma melhor que a outra. Ele era incrível. Mas um homem para relacionamentos casuais. Não um cara para qualquer relação afetiva.

De prazeres é que são feitos os homens fatais. E que prazeres!

2 comentários:

Ivan Ryuji disse...

HAHA
Fatal esse post, hein!
xD
Muito bem descrito, de verdade
Parabens aí... ^^

Bjos

Ivan Ryuji
http://blogdoryuji.blogspot.com/

Camila Cardozo disse...

aai, brigaada ryuji *o*
fico feliz em ler isso, muito mesmo *o*

e vou ler o teu, quando eu tiver um tempinho, sem falta!