domingo, 3 de janeiro de 2010

Fogos

O céu estava colorido aquela noite. Mas ela não gostava muito da noite. Dizia que no escuro as pessoas podem ser o que quiserem e ela nãop gostava de personagens. Mas as cores dessa vez a encantaram. Era verde, rosa, vermelho, laranja. E era difícil saber se toda essa explosão de cores vinham do céu ou de dentro dela. Sua respiração era forte, sugava o máximo de ar que podia, aproveitando a sensação gelada.

Sua felicidade era grande. Grande demais para seu corpinho. E seu coração não estava acostumado a se sentir assim. Mas apesar disso, ela se sentia cada vez menor. Cada vez mais sozinha. Porque todos ali sorriam, brindavam. Todos comemoravam um novo começo. Mas a sua felicidade era diferente das demais. Era um tanto complexa em demasia para que ela própria entendesse. Ela queria conseguir sorrir como os outros. Com o motivo pelo qual os outros sorriam. Mas ela não conseguia.
Pra ela, era tudo tão novo. Uma nova sensação. Primeiro vem os contos de fadas, depois a cruel realidade; pra maioria das pessoas acontece assim. Mas pra ela não começou exatamente dessa forma. Nunca teve motivos para acreditar em fadas e princesas; tudo à sua volta apontava a mentira descarada. Mas naquela noite, parecia que tudo podia ser real. Talvez a sua vida tenha sido invertida. Talvez ela tenha nascido adulta, cheia de responsabilidade e culpa. E com o passar do tempo tenha se tornado criança, encontrando o caminho para a terra dos sonhos. Foi nisso que ela acreditou naquela noite. Depositou toda a sua fé que aqueles seriam seus dias de alegria.
Seus dentes se arreganharam, experimentando pela primeira vez na vida um sorriso. Não se saiu muito bem, mas ela tinha decidido que teria tempo suficiente para treinar mais vezes. Ela havia se libertado do sofrimento e não voltaria pra lá, mesmo que achasse correto fazê-lo. Ela preferia ser uma fugitiva, uma causadora de dor em algumas pessoas à ter que voltar para a beira do penhasco de onde havia saído. Ela decidiu viver.
Observou mais uma vez àquelas pessoas pulando, sorrindo, comemorando. Percebeu que poderia fazer igual, se quisesse. Afinal, todos festejavam um começo. E pra ela, era seu primeiro.
Decidida, se embrenhou na multidão e saudou inúmeros desonhecidos, sem se preocupar em chocar-se com um assassino ou sequestrador. O destino a partir daquele momento era só dela, e faria com ele o que bem entendesse.

2 comentários:

Angel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Angel disse...

então descobriu que não eram personagens, e realmente na noite as pessoas eram quem elas realmente queria ser?