segunda-feira, 14 de junho de 2010

Com carinho, amor.


A percepção do tempo varia de pessoa e coração. Às vezes a vida pode oferecer oportunidades de avançar no espaço, correr pelo relógio e saltar pelos dias. E também pode fazer com que o mundo gire do seu ritmo normal. E ali, o tempo havia deixado suas marcas.

A sala era pequena, o piso de tábua arranhado e o sofá bege gasto. As cortinhas leves de cetim, amareladas com as décadas, estava presas em cordas, permitindo a entrada do sol leve de primavera. Muitas flores coloridas pendiam nas paredes, floresciam nos vasos e tombavam das janelas, enchendo de vida e alegria o local. Sentada na ponta do sofá, lábios colados ao copo de suco, estava Olivia. Os cabelos grisalhos e curtos caindo para trás das orelhas, presos em uma fita de seda amarela. Seus óculos delicados davam até certa graça às suas feições miúdas e suaves. Apesar dos anos, Olivia é uma senhora encantadora e até suas rugas são harmoniosas.
Ela terminou de bebericar o suco de cenoura, laranja e beterraba, que há anos conservara o hábito de tomar. Dizia fazer bem à pele. Então se levantou e olhou para o velho Alfredo. Um senhor alto e esguio, com uma postura ereta e bem conservada para sua idade. Seus cabelos brancos e densos formando uma nuvem em cima do rosto enrugado. Olivia o lançou um sorriso. Alfredo levantou-se, aprumou-se, estendendo a mão a ela, disse:
-Gostaria de passear no parque?
Olivia olhou, pra baixo, corando de leve.
-Claro. –e segurando a mão dele com força, disse – Pra sempre.
Esse é um hábito que os dois mantiverem a vida inteira. Desde que se conheceram num dia de inverno que o sol estava fraquinho e o vento cortava. Olivia vendia flores numa banca em frente ao parque. Era dia dos namorados e Alfredo foi comprar flores para a namorada. Mas então ele conheceu Olivia e seu sorriso cativante, conheceu sua arte de florescer a bondade e o carinho nas pessoas e foi o bastante. Ele a convidou pra passear no parque e desde lá, todos os sábados o fizeram.
O casal de velhinhos saiu pela porta, passando pelo jardim florido. A casa era modesta, amarela de janelas azuis. Assim foi desde sempre. Saíram de mãos dadas, sorrindo um para o outro. Apesar de todos os anos, Alfredo nunca se cansou de olhar dentro dos olhos de Olivia e encontrar amor e vida lá. Lindos e gentis olhos azuis aqueles. E Olivia nunca se cansou de olhar nos olhos de Alfredo e encontrar amor e segurança lá. Intensos olhos cor de mel aqueles.
Passearam no parque como em todas as manhãs de sábado, cumprimentaram conhecidos e velhos amigos. Encontraram pessoas que eles viram nascer formando novos casais. Meninos comprando flores para as namoradas na antiga floricultura e beijos tímidos atrás das árvores. Olharam-se e tiveram a certeza que isso nunca morreu e nem morreria dentro deles, porque o que sentiam ia muito além de qualquer noção de tempo e espaço.
E esse conto não tem um final feliz, porque, como diz uma frase, simplesmente amor de verdade não tem um final.

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